Boa tarde, pessoal do 2ºE!
Espero
que vocês estejam bem!
Esta semana estudaremos o Realismo no Brasil, cujo principal escritor foi Machado de Assis. Façam as atividades e enviem as respostas para o seguinte e-mail: mmaraujo@prof.educacao.sp.gov.br até o dia 28/09/2020.
Antes de começarmos, duas dicas: o ideal seria lermos o romance na íntegra, que está disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000215.pdf. E há um filme sobre o livro:I.
Assista à videoaula do CMSP a seguir e depois responda às questões.
a)
Você
já leu algum livro escrito por Machado de Assis?
Se sim, qual a sua opinião a
respeito dele?
b)
O
que seriam memórias póstumas?
c)
O
que é preciso para um livro ser lido por diferentes gerações e continuar
importante ao longo dos séculos?
d)
Qual
talento um escritor precisa ter para escrever livros que envolvam seus leitores
e os faça querer ler toda a sua obra?
e)
Segundo
o trecho que você acabou de assistir, quais características levaram Machado de
Assis a tornar-se um excelente escritor?
f)
Assista
a esta aula, também do CMSP, que poderá ajudar na análise do capítulo Do trapézio e outras coisas.
II.
Referente ao Realismo, você vai ler um capítulo extraído da obra de Machado de
Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em 1881, marcando o início
desse estilo literário no Brasil. Trata-se de um clássico significativo da
literatura realista. Nessa obra, Machado de Assis muda, drasticamente, o
panorama da literatura brasileira ao criar um narrador que conta sua vida após
a morte e, também, expõe, de forma irônica, os privilégios da elite da época,
bem como seu comportamento.
Leia
o capítulo 17, da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, para responder às
questões propostas.
CAPÍTULO
17
Do
trapézio e outras coisas
...Marcela
amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo
que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso
excedia as raias de um capricho juvenil.
—
Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma universidade,
provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno.
E como eu fizesse um gesto de espanto: — Gatuno, sim, senhor; não é outra coisa
um filho que me faz isto...
Sacou
da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudimos na
cara. — Vês, peralta? é assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas
que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas?
Pelintra! Desta vez ou tomas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma.
Estava
furioso, mas de um furor temperado e curto. Eu ouvi-o calado, e nada opus à
ordem da viagem, como de outras vezes fizera; ruminava a ideia de levar Marcela
comigo. Fui ter com ela; expus-lhe a crise e fiz-lhe a proposta. Marcela
ouviu-me com os olhos no ar, sem responder logo; como insistisse, disse-me que
ficava, que não podia ir para a Europa.
—
Por que não?
—
Não posso, disse ela com ar dolente; não posso ir respirar aqueles ares,
enquanto me lembrar de meu pobre pai, morto por Napoleão...
—
Qual deles: o hortelão ou o advogado?
Marcela
franziu a testa, cantarolou uma seguidilha, entre dentes; depois queixou-se do
calor, e mandou vir um copo de aluá. Trouxe-lho a mucama, numa salva de prata,
que fazia parte dos meus onze contos. Marcela ofereceu-me polidamente o
refresco; minha resposta foi dar com a mão no copo e na salva; entornou-lhe o
líquido no regaço, a preta deu um grito, eu bradei-lhe que se fosse embora.
Ficando
a sós, derramei todo o desespero de meu coração; disse-lhe que ela era um
monstro, que jamais me tivera amor, que me deixara descer a tudo, sem ter ao
menos a desculpa da sinceridade; chamei-lhe muitos nomes feios, fazendo muitos
gestos descompostos. Marcela deixara-se estar sentada, a estalar as unhas nos
dentes, fria como um pedaço de mármore. Tive ímpetos de a estrangular; de a
humilhar ao menos, subjugando-a a meus pés. Ia talvez fazê-lo; mas a ação
trocou-se noutra; fui eu que me atirei aos pés dela, contrito e súplice;
beijei-lhos, recordei aqueles meses da nossa felicidade solitária, repeti-lhe
os nomes queridos de outro tempo, sentado no chão, com a cabeça entre os
joelhos dela, apertando-lhe muito as mãos; ofegante desvairado, pedi-lhe com
lágrimas que me não desamparasse... Marcela esteve alguns instantes a olhar
para mim, calados ambos, até que brandamente me desviou e, com um ar
enfastiado:
—
Não me aborreça, disse.
Levantou-se,
sacudiu o vestido, ainda molhado, e caminhou para a alcova.
—
Não! bradei eu; não hás de entrar...não quero... Ia a lançar-lhe as mãos: era
tarde; ela entrara e fechara-se.
Saí
desatinado; gastei duas mortais horas em vaguear pelos bairros mais excêntricos
e desertos, onde fosse difícil dar comigo. Ia mastigando o meu desespero, com
uma espécie de gula mórbida; evocava os dias, as horas, os instantes de
delírio, e ora me comprazia em crer que eles eram eternos, que tudo aquilo era
um pesadelo, ora, enganando-me a mim mesmo, tentava rejeitá-los de mim, como um
fardo inútil. Então resolvia embarcar imediatamente para cortar a minha vida em
duas metades, e deleitava-me com a ideia de que Marcela, sabendo da partida,
ficaria ralada de saudades e remorsos. Que ela amara-me a tonta, devia de
sentir alguma coisa, uma lembrança qualquer, como do alferes Duarte... Nisto, o
dente do ciúme enterrava-me no coração; e toda a natureza me bradava que era
preciso levar Marcela comigo.
—
Por força... por força... dizia eu ferindo o ar com uma punhada.
Enfim,
tive uma ideia salvadora... Ah! trapézio dos meus pecados, trapézio das
concepções abstrusas! A ideia salvadora trabalhou nele, como a do emplasto
(capítulo Era nada menos que fasciná-la, fasciná-la muito, deslumbrá-la,
arrastá-la; lembrou-me pedir-lhe por um meio mais concreto do que a súplica.
Não medi as consequências: recorri a um derradeiro empréstimo; fui à Rua dos
Ourives, comprei a melhor joia da cidade, três diamantes grandes, encastoados
num pente de marfim; corri à casa de Marcela.
Marcela
estava reclinada numa rede, o gesto mole e cansado, uma das pernas pendentes, a
ver-lhe o pezinho calçado de meia de seda, os cabelos soltos, derramados, o
olhar quieto e sonolento.
—
Vem comigo, disse eu, arranjei recursos... temos muito dinheiro, terás tudo o
que quiseres... Olha, toma.
E
mostrei-lhe o pente com os diamantes. Marcela teve um leve sobressalto, ergueu
metade do corpo, e, apoiada num cotovelo, olhou para o pente durante alguns
instantes curtos; depois retirou os olhos; tinha-se dominado. Então, eu
lancei-lhe as mãos aos cabelos, coligi-os, enlacei-os à pressa, improvisei um
toucado, sem nenhum alinho, e rematei-o com o pente de diamantes; recuei,
tornei a aproximar-me, corrigi-lhes as madeixas, abaixei-as de um lado, busquei
alguma simetria naquela desordem, tudo com uma minuciosidade e um carinho de
mãe.
—
Pronto, disse eu.
—
Doido! foi a sua primeira resposta.
A
segunda foi puxar-me para si, e pagar-me o sacrifício com um beijo, o mais
ardente de todos. Depois tirou o pente, admirou muito a matéria e o lavor,
olhando a espaços para mim, e abanando a cabeça, com um ar de repreensão:
—
Ora você! dizia.
—
Vens comigo?
Marcela
refletiu um instante. Não gostei da expressão com que passeava os olhos de mim
para a parede, e da parede para a joia; mas toda a má impressão se desvaneceu,
quando ela me respondeu resolutamente:
—
Vou. Quando embarcas?
—
Daqui a dois ou três dias.
—
Vou.
Agradeci-lho
de joelhos. Tinha achado a minha Marcela dos primeiros dias, e disse-lho; ela
sorriu, e foi guardar a joia, enquanto eu descia a escada.
ASSIS,
Machado de. Memórias Póstumas de Brás
Cubas. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000215.pdf.
Acesso em: 21 jan. 2020.
a)
Brás Cubas, o “defunto-autor”, narra a história de quando viveu em meio a
regalias, sendo protegido pela conivência paternal. Nesse capítulo, o autor
utiliza a ironia e o eufemismo para que o leitor perceba o relacionamento do
protagonista com Marcela, que tem grande interesse nos caros presentes que ele
lhe dava. Ainda assim, Brás Cubas, afirma decididamente que ela o amou, mas é
possível perceber que, nesse relacionamento, amor e interesse financeiro estão
intimamente ligados.
Quando
seu pai vê a rapidez com que o rapaz esbanja a herança da família, o envia-o, à
força, a Portugal, para estudar na Universidade de Coimbra.
Considerando
o tom irônico próprio do estilo machadiano e o contexto da obra quanto à
desmitificação do ideal romântico, qual sua opinião a respeito do início do
capítulo: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”?
b)
Que crítica implícita é possível identificar quanto à idealização romântica do
amor? Qual é a resposta de Marcela ao pedido de Brás Cubas? O que essa resposta
pode revelar a respeito da moça?
c)
Na tentativa de convencer Marcela a viajar com ele, Brás Cubas lança mão de
outro argumento: “— Vem comigo, disse eu, arranjei recursos... temos muito
dinheiro, terás tudo o que quiseres... Olha, toma. E mostrei-lhe o pente com os
diamantes.” O que há de diferente em relação à primeira tentativa de
convencê-la a ir com ele? Comente.
d)
No trecho “Que ela amara-me a tonta, devia de sentir alguma coisa, uma
lembrança qualquer, como do alferes Duarte... Nisto, o dente do ciúme
enterrava-me no coração; e toda a natureza me bradava que era preciso levar
Marcela comigo.”, como em outros momentos do texto, Machado de Assis apresenta
indícios sobre o comportamento de Marcela. O que se pode inferir a respeito do
tipo de interesses que ela possuía?
e)
Nesse capítulo, a palavra “trapézio”, no trecho “Ah! trapézio dos meus pecados,
trapézio das concepções abstrusas!”, expressa uma metáfora. Pense nos
significados dessa palavra, os quais nos remetem à ideia de acrobacias,
astúcia, destreza. Desse modo, o que se pode inferir sobre o emprego da palavra
“trapézio” neste texto?
f)
Um dos temas da obra machadiana é a abordagem das relações humanas que
aconteciam apenas pelo interesse financeiro. Machado escancara a hipocrisia das
personagens que vivem numa sociedade mascarada pelos valores morais do momento.
A partir desse capítulo da obra, é possível antecipar a visão que o autor tinha
sobre as pessoas e, também, da sociedade da época. A esse respeito, comente
sobre:
· A postura de Brás Cubas.
· A postura de seu próprio pai.
· O amor - inversão do conceito romântico de
amor
g)
O que se pode dizer a respeito do fato de o autor ter escolhido um
“defunto-autor” para narrar a própria história, levando-se em conta que o
narrador conhece o caráter de todos as personagens?
Observações: Leiam os textos
com atenção para responder às questões. Não deixem de perguntar, caso tenham
dúvidas.
Até
mais,
Profª
Maria Margarida
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