Olá,
pessoal do 2ºE!
Espero que estejam bem :)
Na
atividade desta semana, você irá ler trechos de um romance e de um conto do
Romantismo brasileiro. Por favor, enviem suas respostas para o seguinte
e-mail: mmaraujo@prof.educacao.sp.gov.br
até o dia 22/06/2020.
I.
Leia o texto a seguir para depois responder às questões.
Iracema
Além, muito além daquela serra, que
ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel,
que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu
talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha
recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a corça selvagem, a
morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira
tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas
a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do
Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da
oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre
esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem, os pássaros
ameigavam o canto. Iracema saiu do banho: o aljôfar d’água ainda a roreja, como
à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas
do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no
galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca
junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome;
outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os
alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de
que matiza o algodão. Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a
virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e
todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau
espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos
olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos
cobrem-lhe o corpo. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha
embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De
primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O moço
guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e
amor. Sofreu mais d’alma que da ferida. O sentimento que ele pôs nos olhos e no
rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu
para o guerreiro, sentida da mágoa que causara. A mão que rápida ferira,
estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou
a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta
farpada. O guerreiro falou: — Quebras comigo a flecha da paz? — Quem te
ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas
matas, que nunca viram outro guerreiro como tu? — Venho de bem longe, filha das
florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus. —
Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e
à cabana de Araquém, pai de Iracema. [...]
ALENCAR, José de. Iracema. Disponível
em:<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000014.pdf>. Acesso
em: 12 nov. 2019.
b)
(PUC)
– Iracema, juntamente com O Guarani e
Ubirajara constituem a trilogia dos
romances indianistas de José de Alencar. Na poesia, Gonçalves Dias também
exaltou o índio em textos como “I – Juca Pirama”, “Leito de Folhas Verdes”,
“Marabá”, “O Canto do Piaga”, além do poema épico “Os Timbiras”. – Pergunta-se:
o que representou o indianismo na Literatura romântica brasileira?
c)
O
nome Iracema é anagrama de América, ou seja, essas duas palavras são escritas
com as mesmas letras. Qual a relação de Iracema com a América? Explique com
exemplos do texto.
d)
A
obra Iracema foi escrita em prosa, apresentando características predominantes
em textos poéticos. Cite alguns trechos que comprovem a presença destes
elementos: sonoridade, ritmo, rima, adjetivação etc.
e)
No
excerto: “Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros
que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati
não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu
hálito perfumado”. Quais figuras de linguagem aparecem neste trecho?
(A) Pleonasmo
e antítese.
(B) Eufemismo
e hipérbole.
(C) Metonímia
e antítese.
(D) Metáfora
e comparação.
(E) Catacrese
e metonímia.
II.
Leia o trecho do conto a seguir.
III
BERTRAM
“But why should I for others
groan,
When none will sigh for me!”¹
Byron
[...] Amei muito
essa moça, chamava-se Ângela. Quando eu estava decidido a casar-me com ela,
quando após das longas noites perdidas ao relento a espreitar-lhe da sombra um
aceno, um adeus, uma flor, quando após tanto desejo e tanta esperança eu
sorvi-lhe o primeiro beijo, tive de partir da Espanha para Dinamarca onde me
chamava meu pai.
Foi uma noite de
soluços e lágrimas, de choros e de esperanças, de beijos e promessas, de amor,
de voluptuosidade no presente e de sonhos no futuro... Parti. Dois anos depois
foi que voltei. Quando entrei na casa de meu pai, ele estava moribundo;
ajoelhou-se no seu leito e agradeceu a Deus ainda ver-me, pôs as mãos na minha
cabeça, banhou-me a fronte de lágrimas — eram as últimas — depois deixou-se
cair, pôs as mãos no peito, e com os olhos em mim murmurou: Deus!
A voz
sufocou-se-lhe na garganta: todos choravam.
Eu também
chorava, mas era de saudades de Ângela...
Logo que pude reduzir minha fortuna a
dinheiro, pus-la no banco de Hamburgo, e parti para a Espanha. Quando voltei.
Ângela estava casada e tinha um filho...
Contudo meu amor não morreu! Nem o dela!
Muito ardentes foram aquelas horas de amor e de lágrimas, de saudades e beijos,
de sonhos e maldições para nos esquecermos um do outro.
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Uma noite, dois vultos alvejavam nas
sombras de um jardim, as folhas tremiam ao ondear de um vestido, as brisas
soluçavam aos soluços de dois amantes, e o perfume das violetas que eles
pisavam, das rosas e madressilvas que abriam em torno deles era ainda mais doce
perdido no perfume dos cabelos soltos de uma mulher...
Essa noite — foi uma loucura! foram
poucas horas de sonhos de fogo! e quão breve passaram! Depois a essa noite
seguiu-se outra, outra... e muitas noites as folhas sussurraram ao roçar de um
passo misterioso, e o vento se embriagou de deleite nas nossas frontes
pálidas...
Mas um dia o marido soube tudo: quis
representar de Otelo com ela. Doido!...
Ilustração
de Marcelo Ortega Amorim elaborada especialmente para este material.
Era alta noite: eu esperava ver passar
nas cortinas brancas a sombra do anjo. Quando passei, uma voz chamou-me.
Entrei. — Ângela com os pés nus, o vestido solto, o cabelo desgrenhado e os
olhos ardentes tomou-me pela mão... Senti-lhe a mão úmida.... Era escura a
escada que subimos: passei a minha mão molhada pela dela por meus lábios. Tinha
sabor de sangue.
— Sangue, Ângela! De quem é esse sangue?
A Espanhola sacudiu seus longos cabelos
negros e riu-se.
Entramos numa sala. Ela foi buscar uma
luz, e deixou-me no escuro.
Procurei, tateando, um lugar para
assentar-me: toquei numa mesa. Mas ao passar-lhe a mão senti-a banhada de
umidade: além, senti uma cabeça fria como neve e molhada de um líquido espesso
e meio coagulado. Era sangue...
Quando Ângela veio com a luz, eu vi...
Era horrível!... O marido estava degolado.
Era uma estátua de gesso lavada em
sangue... [...]
— Vês, Bertram, esse era o meu presente
: agora será, negro embora, um sonho do meu passado. Sou tua e tua só. Foi por
ti que tive força bastante para tanto crime... Vem, tudo está pronto, fujamos.
A nós o futuro!
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Foi uma vida insana a minha com aquela
mulher! Era um viajar sem fim. Ângela vestia-se de homem: era um formoso
mancebo assim. No demais, ela era como todos os moços libertinos que nas mesas
da orgia batiam com a taça na taça dela. Bebia já como uma inglesa, fumava como
uma Sultana, montava a cavalo como um Árabe, e atirava as armas como um
Espanhol.
Quando o vapor dos licores me ardia a
fronte, ela ma repousava em seus joelhos, tomava um bandolim e me cantava as
modas de sua terra... Nossos dias eram lançados ao sono como pérolas ao amor:
nossas noites sim eram belas!
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Um dia ela partiu: partiu, mas deixou-me
os lábios ainda queimados dos seus, e o coração cheio de gérmen de vícios que
ela aí lançara. Partiu. Mas sua lembrança ficou como o fantasma de um mau anjo
perto de meu leito.
Quis esquecê-la no jogo, nas bebidas, na
paixão dos duelos. Tornei-me um ladrão nas cartas, um homem perdido por
mulheres e orgias, um espadachim terrível e sem coração. [...]
AZEVEDO,
Álvares. Bertram. In: Noite na Taverna. Disponível
em:<http://www.dominiopublico.gov.br/download/ texto/bv000023.pdf>.
Acesso em: 11 nov. 2019. (adaptado)
1
Tradução: “Mas por que eu deveria por outros gemer / Quando ninguém irá
suspirar por mim?”
b)Quais
sensações a leitura do texto provocou em você? Faça um comentário,
sintetizando-as.
c)
Quais são as características da personagem Ângela que a tornam um contraponto a
um modelo idealizado de mulher criado pela geração romântica?
d)
De que forma o conto reproduz os ideais vinculados ao chamado Mal do Século?
e)
Observe o trecho a seguir: “Foi uma vida insana a minha com aquela mulher! Era
um viajar sem fim. Ângela vestia-se de homem: era um formoso mancebo assim. No
demais ela era como todos os moços libertinos que nas mesas da orgia batiam com
a taça na taça dela. Bebia já como uma inglesa, fumava como uma Sultana,
montava a cavalo como um Árabe, e atirava as armas como um Espanhol.”
Qual
figura de linguagem prevalece no trecho? Qual característica da personagem Ângela
é enfatizada?
Bibliografia: Caderno do
aluno 2ª série do Ensino Médio/ 2º bimestre (Adaptado).
Observações: Leiam os textos com calma, assistam aos vídeos, assim entenderam melhor as questões.