CRONOGRAMA DE POSTAGENS


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6 ANOS e 7 ANOS
1B,1C,1D,1E,1F, 2 ANOS, 
3 ANOS
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quarta-feira, 1 de julho de 2020

SOCIOLOGIA SOCIOLOGIA





Ao final desta aula o aluno deverá:
Entender os pressupostos histórico-políticos, sociais e econômicos e culturais – que fundamentam o surgimento da Sociologia. Demonstrar como o pensamento social foi se estruturando e sendo estruturado historicamente até o início do século XIX, quando as circunstâncias históricas criaram as condições para que a Sociologia surgisse como uma nova forma de ver, pensar e agir, isto é, como uma nova configuração do saber sobre a sociedade humana.
Conhecer os principais pensadores que fundamentaram a emergência da Sociologia

Como surgiu a Sociologia
A Revolução Francesa (França, 1789) e a Revolução Industrial (Inglaterra, 1780 a 1860) são conhecidas como o cenário para o surgimento da Sociologia. A Europa estava sofrendo grandes mudanças, transformando a vida social da população, dando ênfase no processo de industrialização e urbanização da sociedade Capitalista que ali se implantava. Foram desfeitos alguns costumes e tradições, como a família patriarcal, a servidão e o trabalho manufatureiro, dando início à indústria capitalista.
A importância da Revolução Industrial no surgimento da Sociologia
Com a Revolução Industrial, as localidades devido a um crescimento demográfico significativo, acabavam por não disponibilizar para seus habitantes uma boa infraestrutura. Ao que tange moradias e serviço de saúde, as civilizações deixavam a desejar para aqueles que saiam do campo e vinham tentar a vida na cidade. Um importante crescimento que houve na época, sob um ponto de vista, foi na área de técnicas produtivas e na introdução da máquina a vapor, que proporcionava mais comodidade para os trabalhadores do ramo. Por outro lado, a substituição da energia humana pela energia motriz, das ferramentas pelas máquinas, bem como a produção doméstica pelo sistema fabril, trouxe alguns prejuízos para as famílias que começaram a se encontrar desempregadas. As consequências da rápida industrialização não foram as melhores possíveis, já que aumentos na criminalidade, alcoolismo, violência, prostituição e surtos de epidemias de tifo e cólera foram rapidamente constatados. Estas interferências terminaram por exterminar uma fatia considerável da população.
Já na Revolução Francesa, o objetivo era fazer triunfar os ideais seculares como liberdade e igualdade sobre a ordem social tradicional, fazendo com que essas ideias se espalhassem pelo mundo. A antiga forma de sociedade (Ancien Regime) foi abolida, promovendo muitas transformações na política, na vida cultural e na economia do país, não havendo mais as instituições aristocráticas e tradicionais, possibilitando igualdade entre todos os cidadãos perante a lei. Muitas das explicações baseadas na religião passaram a receber criticas e serem suplantadas por pensamentos racionais e lógicos, radicalmente mudando do modelo teocêntrico (Deus) para o antropocêntrico (Homem).
O surgimento dos primeiros sociólogos
Os primeiros sociólogos procuravam entender o estado de organização da sociedade em formação, sendo o século XVIII muito importante para o surgimento dessa ciência profunda e complexa, a qual é estudada e analisada até os dias de hoje. Todas as transformações que ocorreram na época trouxeram consigo problemas para a vida em comunidade, daí surge a Sociologia e seus pesquisadores para esclarecerem e organizarem as mudanças ocorridas no meio social, juntamente com os processos que interligam os indivíduos em grupos, associações e insituições. O termo Sociologia foi criado por Auguste Comte, em 1838, que pretendia unificar a Psicologia, a Economia e a História, levando em consideração que todos esses assuntos giram em torno do homem e seu comportamento. Mas os fundamentos sociológicos só foram institucionalizados com Karl MarxÉmile Durkheim e Max Weber, pensadores renomados que se tornam base para nosso estudo.
Assistam aos vídeos:
Esta videoaula apresenta os conceitos básicos estudados pela sociologia e mostram quais são os principais objetos de análise, apresentando exemplos de como o estudo de disciplina compreende a vida em sociedade e os diversos fenômenos sociais.
Questões para análise:
  • O que é sociologia?
  • Como surgiu a Sociologia? O que provocou o seu surgimento?
  • Qual a importância de Augusto Conte para a Sociologia?
  • O que é pensar sociologicamente? Qual a sua importância?
  • A que interesse a Sociologia atendeu, inicialmente, no Brasil?

Anotem as reflexões em seu caderno na matéria de Sociologia.

TEXTO PARA LEITURA:

Reforma protestante

Reforma protestante O século XVI conheceu outro movimento chamado Reforma Protestante. Ao entrar em conflito com a autoridade papal e a estrutura da Igreja, este movimento criou uma tendência que valorizava o indivíduo ao permitir a livre leitura das Escrituras Sagradas que se confrontava com o monopólio do clero na interpretação baseada na fé e nos dogmas. Várias partes do mundo ocidental passaram não apenas a interpretar as Escrituras Sagradas como também a estabelecer uma relação particular com Deus, sem a intermediação dos ministros da Igreja. A Reforma pôde assim se vincular a uma tradição de resistência à autoridade e à tradição que preparou a Ilustração (o Iluminismo). As figuras centrais dessa reação foram Martinho Lutero (1483-1546) e João Calvino (1509-1564). Assim, havendo uma nova maneira de se relacionar com as coisas sagradas, houve também um movimento no sentido de se analisar o universo de outra forma. A razão passou a ser soberana e passou a ser o elemento essencial para se conhecer o mundo; isto é, os homens deveriam ser livres para julgar, avaliar, pensar e emitir opiniões sem se submeterem a nenhuma autoridade transcendental ou divina, que tinha na Igreja Romana a sua maior defensora e guardiã (ao menos no Ocidente).
Do século XV ao século XVII, o conhecimento racional do universo e da vida em sociedade começou a ser uma regra seguida por alguns pensadores. Foi uma mudança lenta, sempre provocando embates contra o dogmatismo e a autoridade da Igreja, a exemplo do Concílio de Trento (1545-1563) e dos processos da Inquisição. Estes procuraram impedir toda e qualquer manifestação que pudesse pôr em dúvida a autoridade eclesiástica, tanto no campo da fé quanto no campo do conhecimento secular que propunha novas explicações para a sociedade e a natureza.
Essa nova forma de conhecer e explicar a natureza e a sociedade, em que a experimentação e a observação se tornaram fundamentais, apareceu nesse momento representada pelo pensamento e pelas obras de diversos autores, entre os quais podemos citar Nicolau Maquiavel (1469-1527); Erasmo de Rotterdam (1466-1536); Nicolau Copérnico (1473-1543); Galileu Galilei (1564-1642); Thomas Hobbes (1588-1679); Francis Bacon (1561-1626); René Descartes (1596-1650) e Baruch Spinoza (1632-1677). Além desses pensadores existiram outros que fizeram a ponte entre esses novos conhecimentos e os que se desenvolveram no século seguinte: John Locke (1632-1704); Leibniz (1646-1716) e Isaac Newton (1642-1727), que propuseram novos princípios para a compreensão da sociedade e da natureza. Nesses dois séculos, XVI e XVII, encontramos na arte e na literatura as obras de alguns dos maiores artistas ocidentais que ainda hoje são importantes para entendermos alguns elementos da sociedade de então. Entre outros, podemos citar:
• Leonardo di ser Piero da Vinci (1452-1519) – pintor/escultor/cientista;
• Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni (1475-1564) – escultor/pintor;
• Rafael Sanzio (1483-1520) – pintor;
• Pieter Brueghel (1525/1530-1569) – pintor;
• El Greco – Doménikos Theotokópoulos – (1541-1614) – pintor;
• Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669) – pintor;
• Luís Vaz de Camões (1524-1580) – escritor/poeta;
• Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) – filósofo/escritor;
• Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616) – poeta/escritor;
• William Shakespeare (1564-1616) – dramaturgo/poeta;
• Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière (1622-1673) – dramaturgo.
 As transformações no século XVIII
No final do século XVII, na maioria dos países europeus, a burguesia comercial, formada basicamente por comerciantes e banqueiros, tornou-se uma classe com muito poder, devido, na maior parte das vezes, aos vínculos econômicos mantidos com as monarquias. Essa classe, além de sustentar ativo o comércio entre os países europeus, estendia os seus tentáculos a todos os pontos do mundo, até não mais poder, comprando e vendendo mercadorias, tornando o mundo cada dia mais europeizado, impondo seu modo de vida, sua religião, seus costumes e crenças. Em bem pouco tempo o mundo não seria mais o mesmo que tinha sido até então. O capital mercantil se estendeu também a outro ramo de atividade que gradativamente se organizava: a produção manufatureira. A compra de matérias-primas e a organização da produção, fossem através do trabalho domiciliar ou do trabalho em oficinas, levavam ao desenvolvimento de um novo processo produtivo em contraposição ao das corporações de ofício. Ao se desenvolver a manufatura, os organizadores da produção passaram a se interessar cada vez mais pelo aperfeiçoamento das técnicas de produção, visando produzir mais com menos gente, aumentando significativamente os seus lucros. Para tanto, procuravam investir nos “inventos”, isto é, buscavam financiar a criação de máquinas que pudessem ter aplicação no processo produtivo. Assim, o conhecimento científico, gradativamente, passou a ter reconhecimento e tornou possível desenvolver novas tecnologias para potencializar a produção. Desse modo, criou-se a máquina de tecer, a máquina de descaroçar algodão, bem como teve inicio a aplicação industrial da máquina a vapor e de outros tantos inventos destinados a aumentar a produtividade do trabalho. Desenvolveu-se então o fenômeno que veio a ser chamado de maquinofatura. O trabalho que os homens realizavam com as mãos ou com ferramentas passava, a partir de então, a ser feito por meio de máquinas, elevando muito o volume da produção de mercadorias.
A presença da máquina a vapor, que podia mover outras tantas máquinas, incentivava o surgimento da indústria construtora de máquinas e, consequentemente, incentivava toda a indústria voltada para a produção de ferro e, posteriormente, de aço. É importante lembrar que, já no final do século XVIII, produziu-se o ferro e o aço, com a utilização do carvão mineral. Nesse mesmo contexto de profundas alterações no processo produtivo encontrava-se também a utilização cada vez mais crescente do trabalho mecânico convivendo com o trabalho artesanal. A maquinofatura se completava com o trabalho assalariado, aí se incluindo a utilização, numa escala crescente, da mão de obra feminina e da infantil. Ao mesmo tempo, longe da Europa, mas ainda vinculada a ela, havia a exploração do ouro no Brasil, da prata no México e do algodão nos Estados Unidos da América e na Índia, onde, na maioria dos casos, essas atividades se desenvolveram com a utilização do trabalho escravo ou servil. Esses elementos, conjugados, asseguravam as bases do processo de acumulação necessária para a expansão da indústria na Europa. Todas essas mudanças, somadas à herança cultural e intelectual do século XVII, definiram o século XVIII como um século explosivo. Se no século anterior a Revolução Inglesa determinou novas formas de organização política, foi no século XVIII que tanto a Revolução Americana quanto a Francesa alteraram todo o quadro político ocidental, servindo de exemplo e parâmetro para revoluções políticas posteriores. As transformações na esfera da produção, a emergência de novas formas de organização política e a exigência da representação popular irão dar características muito específicas a esse século, em que pensadores como Charles de Montesquieu (1689-1755); Voltaire (1694-1778); Denis Diderot (1713-1784) Jean le Rond d’Alembert (1717-1783); David Hume (1711-1776); Jean-Jaques Rousseau (1712-1778); Adam Smith (1723-1790) e Immanuel Kant (1724-1804), entre outros, buscaram, por caminhos às vezes divergentes, refletir e explicar a realidade de então. Nas diferentes expressões artísticas (música, pintura, poesia, literatura), vários nomes expressaram elementos daquela realidade que nos servem de base para entender aquele período. Entre outros, podemos lembrar:
• Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741) – compositor;
• Johann Sebastian Bach (1685-1750) – compositor;
• Johann Chrysostom Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – compositor;
• Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828) – pintor;
• Friedrich von Schiller (1759-1805) – filósofo/escritor;
• Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) – poeta/escritor;
• Franz Joseph Haydn (1732-1809) – compositor;
• Ludwig van Beethoven (1770-1827) – compositor;
• George Gordon Byron, mais conhecido como Lord Byron (1788-1824) – poeta;
• Henri-Marie Beyle, mais conhecido como Stendhal (1783-1842) – poeta.
 A consolidação da sociedade capitalista e o surgimento de uma “ciência da sociedade” no século XIX
O século XIX é um século de profundas transformações, que passam desde a emergência de novas fontes energéticas (eletricidade e petróleo) como por novas atividades industriais e uma profunda alteração nos processos produtivos, com a introdução de novas máquinas e equipamentos. No início desse século, depois de trezentos anos de exploração colonialista, teve início, principalmente nas nações latino-americanas, um processo intenso de lutas pela independência. No continente europeu, resquícios da atividade monárquica, não republicana, perpetuavam a existência de Estados não unificados (com uma única autoridade e a separação das questões públicas das privadas), como na Alemanha e na Itália. É no século XIX, quando está ocorrendo o processo de consolidação do sistema capitalista na Europa, que encontramos as heranças intelectuais que irão colaborar para o surgimento da Sociologia como ciência. No início desse século, o pensamento de Saint-Simon (1760-1825); de G. W. E. Hegel (1770-1830); de David Ricardo (1772-1823) e de Charles Darwin (1809-1882), entre outros, será o elo para que Aléxis de Tocqueville (1805-1859); Auguste Comte (1798-1857), Karl Marx (1818-1883) e Herbert Spencer (1820- 1903) desenvolvam suas reflexões sobre a sociedade e o tempo em que estão vivendo. Também nas artes, na literatura, expressões significativas, necessárias e fundamentais nos auxiliam no entendimento da sociedade desse século de revoluções (científicas, sociais, políticas e econômicas). Entre outros nomes, podemos lembrar:
• O pintor Ferdinand Victor Eugène Delacroix (1798-1863) e o poeta Christian Johann Heinrich Heine (1797-1856);
• Os escritores Honoré de Balzac (1799-1850), Victor-Marie Hugo (1802-1885) e Charles John Huffam Dickens (1812-1870);
• O compositor e pianista Frédéric Chopin (1810-1849), os compositores Georges Alexandre César Léopold Bizet (1838-1875), Robert Alexander Schumann (1810-1856) e Jakob Ludwig Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847);
• Os escritores Alexandre Dumas (Dumas Davy de la Pailleterie) (1802-1870); Nikolai Vasilievich Gogol (1809-1852); Gustave Flaubert (1821-1880); Charles Lutwidge Dodgson; ou Lewis Carrol (1832-1898) e Emile Zola (1840-1902).
São múltiplas as alternativas para se analisar as obras e os autores que influenciaram o surgimento da Sociologia, e conforme Raymond Aron, em seu livro As etapas do pensamento sociológico, deveríamos começar por Montesquieu, passando por Comte, Marx e Tocqueville para, depois, analisar Durkheim, Weber e Pareto. Outros autores, como Michel Llalement e Nicholas Timasheff, incluem Herbert Spencer entre os precursores da Sociologia. Mas, para o cumprimento dos objetivos aqui propostos, escolhemos analisar apenas duas grandes tradições de pensamento: a positivista e a socialista.
A justificativa é entendermos serem essas as duas grandes correntes de pensamento que mais influenciaram o desenvolvimento da Sociologia no Brasil. Assim, para começar esta “viagem”, entendemos ser importante “visitar” o autor que influenciou as duas vertentes escolhidas: seu nome, Saint Simon. Saint-Simon (1760-1825) e a nova ciência “da sociedade” Claude-Henri de Rouvroy – Conde de Saint-Simon – era descendente de uma família aristocrática muito antiga na França, e por isso teve uma excelente educação para sua época, inclusive tendo como professor o então célebre d´Alembert, um dos autores da Enciclopédia (obra de capital importância do Iluminismo). Por ser aristocrata, teve que ir para o exército, chegando a se tornar coronel. Esta situação, além de levá-lo a participar da luta pela libertação dos Estados Unidos da América, permitiu que viajasse para a Espanha, para a Holanda, sempre como um profundo observador do que estava acontecendo na Europa. A Revolução Francesa modificou a sua condição. Mesmo como aristocrata, estava convencido que o antigo regime estava corrompido e corrompia, e não podia durar muito mais, mas não aceitava a violência e a destruição do movimento revolucionário de então. Entretanto, os novos ventos da Revolução o atingiram, e Saint-Simon renunciou ao título de Conde, passando a se chamar Claude Henri Bonhomme, um nome plebeu. A partir de então se envolveu em negócios comprometedores, sendo inclusive preso por isso. Mais tarde foi solto e iniciou uma nova fase da vida ao viajar novamente para outros lugares da Europa-Suíça, Inglaterra e Alemanha – mas já com a ideia ampla de formular uma filosofia da ciência capaz de unificar todos os fenômenos naturais e sociais.
 Além disso, Saint-Simon tinha um objetivo que nunca deixou de lado: reorganizar as sociedades europeias tendo, por fundamento, a ciência e a indústria. As suas ideias influenciaram as ideias tanto de Auguste Comte, e depois de E. Durkheim, quanto de Karl Marx. Mas que ideias eram essas que puderam influenciar dois autores tão antagônicos em suas formas de ver e analisar o mundo em que viviam? Concepção de história: Saint-Simon entendia que a história marcha através de uma série de afirmações e negações que darão lugar a momentos mais altos. Defendia uma regra geral: o apogeu de um sistema coincide com o início de sua decadência. Para ele, existiam três grandes momentos na história ocidental. A primeira época orgânica seria a da Antiguidade greco-romana, e a primeira época crítica seria a das invasões bárbaras. A segunda orgânica seria a da Idade Média, e a sua crítica se estende do Renascimento até a Revolução Francesa. A terceira época orgânica seria a que ele vislumbrava: a do industrialismo. As classes sociais: para Saint-Simon, em todas as épocas sempre houve uma estrutura de classes dividida entre dominantes e dominados, e a história da humanidade se explicaria pelas contradições entre elas. Mas Saint-Simon não pensava na superação dessas classes por uma outra sociedade, pois imaginava a possibilidade de uma harmonização entre as mesmas, com uma justiça policlassista. No tempo em que viveu, e na sociedade francesa em particular, ele afirmava existirem duas grandes classes: a dos ociosos (a realeza, a aristocracia e o clero, os militares e a burocracia que administrava a estrutura destes, que nada produziam) e a dos produtores ou industriais (cientistas, engenheiros, médicos, banqueiros, comerciantes, industriais, artesãos, lavradores trabalhadores braçais, enfim, todos os cidadãos úteis para o desenvolvimento da França). Novos dirigentes: para que a sociedade pós-revolucionária na França se firmasse, Saint-Simon acreditava ser necessário que a ciência tomasse o lugar da autoridade religiosa da Igreja, formando assim uma nova elite, agora científica.
A ciência deveria substituir a religião como força de coesão. Os cientistas substituiriam os clérigos e os industriais os senhores feudais, e a aliança dos cientistas com os industriais conformaria a nova classe dirigente. Os que estariam na direção deveriam ser os mais capazes em cada campo, por conhecerem e saberem mais sobre a sociedade: seriam os cientistas que a estudam e os industriais que, pela prática, sabem o que funciona melhor. Desde 1803 Saint-Simon escreveu uma série de livros que demonstram uma confiança no futuro da ciência e que buscam uma lei única que permitisse guiar a investigação dos fenômenos sociais, como a lei da gravitação universal de Newton. A principal tarefa desta nova ciência seria a de descobrir as leis do desenvolvimento social, pois elas indicariam o caminho que se deveria tomar para que a sociedade pudesse seguir no progresso continuado. Para ele, a filosofia do século XVIII tinha sido revolucionária, e a do século XIX teria que ser organizacional. No final da vida procurou desenvolver uma espécie de religião, um novo cristianismo mais dinâmico, que teria por objetivo fundamental a elevação física e moral da classe mais numerosa e pobre da sociedade. As obras mais importantes de Saint-Simon do ponto de vista sociológico são as seguintes:
• Reorganização da sociedade europeia – com Agustín Thierry (1814);
• A indústria ou discussões políticas, morais e filosóficas no interesse de todos os homens livres e trabalhadores úteis e independentes (1816-1817);
• O organizador (1819); • O sistema industrial (1821-1823);
• O catecismo dos industriais (1822-1824);
• O novo cristianismo (1824).
Saint-Simon influenciou fortemente Auguste Comte (que foi seu secretário entre 1819 e 1824) e depois Émile Durkheim, se tomarmos algumas das suas obras que tratam de uma nova sociedade organizada e da formulação de uma ciência de uma sociedade específica. Mas ele influenciou igualmente Karl Marx, se pensarmos que Saint-Simon foi considerado um reformador social e um socialista utópico. Auguste Comte (1798-1857) e a tradição positivista Auguste Comte nasceu em Montpellier, na França, no dia 19 de janeiro de 1798, filho de um fiscal de impostos. Suas relações com a família foram sempre tempestuosas, e lhe deixaram marcas profundas que contêm elementos explicativos do desenvolvimento de sua vida e talvez até mesmo de certas orientações dadas às suas obras, sobretudo em seus últimos anos. Com a idade de dezesseis anos, em 1814, Comte ingressou na Escola Politécnica de Paris, fato que teria significativa influência na orientação posterior de seu pensamento. Para ele, a Politécnica foi a primeira comunidade verdadeiramente científica que deveria servir como modelo de toda educação superior. Embora permanecesse por apenas dois anos nessa escola, Comte ali recebeu a influência do trabalho intelectual de cientistas como o físico Carnot (1796-1832); o matemático Lagrange (1736-1813) e o astrônomo Laplace (1749-1827). Em 1816, a onda reacionária que se apoderou de toda a Europa, depois da derrota de Napoleão e da Santa Aliança, repercutiu na Escola Politécnica, que foi fechada temporariamente, acusada de jacobinismo. Comte deixou a Politécnica e resolveu continuar em Paris. Nesse período sofreu influência dos chamados “ideólogos”, como Destutt de Tracy (1754-1836) e Cabanis (1757-1808) e Volney (1757-1820). Foi quando desenvolveu seus estudos sobre economia política lendo Adam Smith (1723-1790) e Jean-Baptiste Say (1767-1832), e filósofos e historiadores como David Hume (1711-1776) e William Robertson (1721-1793). O fator mais decisivo para sua formação foi, porém, o estudo do Esboço de um Quadro Histórico dos Progressos do Espírito Humano, de Condorcet (1743-1794). A importância reside no fato de Condorcet traçar um quadro do desenvolvimento da humanidade, no qual os descobrimentos e invenções da ciência e da tecnologia desempenhavam papel preponderante, pois faziam o homem caminhar para uma era em que a organização social e política seria produto das luzes da razão. Essa ideia tornar-se-ia um dos pontos fundamentais da filosofia de Comte. Ao deixar a Politécnica ele se tornou secretário de SaintSimon. Sobre esta convivência ele afirmou que tinha aprendido uma multidão de coisas que em vão se procuraria nos livros. Afirma ainda que no pouco tempo que esteve junto de Saint-Simon fez maiores progressos do que faria em muitos anos se estivesse sozinho. Ao voltar da Politécnica, Comte publicou o Discurso sobre o espírito positivo. Depois, ele foi excluído definitivamente da Escola Politécnica em razão de suas críticas aos matemáticos, feitas no prefácio do último volume do Curso de filosofia positiva, editado em 1842, onde afirmava ter chegado o tempo de os biólogos e os sociólogos ocuparem o primeiro posto no mundo intelectual. Desde cedo Auguste Comte procurou fazer uma reflexão sobre a sociedade de sua época. Toda a sua obra está permeada pelos acontecimentos que ocorreram na França pós-revolucionária; ele defendeu parte do espírito de 1789 e criticou a restauração da monarquia, preocupando-se fundamentalmente em como organizar a nova sociedade que, no seu entender, estava em ebulição e em total caos. Para Comte, a desordem e a anarquia imperavam devido à confusão de princípios (metafísicos e teológicos) que não mais podiam se adequar à sociedade industrial em expansão. Era, portanto, necessário superar esse estado de coisas, usando a razão como fundamento da nova sociedade. Assim, Auguste Comte propõe uma completa reforma da sociedade em que vivia mediante a reforma intelectual plena do homem. Ao se modificar a forma de pensamento dos homens, através dos métodos das ciências de seu tempo, que ele chamou de “filosofia positiva”, consequentemente haveria uma reforma das instituições. Nesse ponto é que Auguste Comte promove o surgimento da Sociologia, ou “física social”, que, ao estudar a sociedade por meio da análise de seus processos e estruturas, proporia uma reforma prática das instituições. O neologismo (socius+logia) de Comte teve um imenso êxito, pois logo depois começaram a aparecer expressões como a fitosociología (sociologia das árvores) e vários estudos sobre as sociedades das formigas e das abelhas, etc. Mas a sociologia de Comte pretendia entender alguns dos fenômenos que as ciências mais individualistas – como a economia clássica ou a nascente psicologia – não analisavam muito bem. Comte atribuía à Sociologia não somente uma função científica, centrada em entender como atuam os seres humanos, mas também política, de como corrigir os abusos do liberalismo. A Sociologia, para Comte, era o coroamento da evolução do conhecimento, usando os mesmos métodos de outras ciências, pois todas elas buscam conhecer os fenômenos constantes e repetitivos da natureza. A Sociologia, como as ciências naturais, deveria sempre procurar a reconciliação entre os aspectos estáticos e os dinâmicos do mundo natural ou, em termos da sociedade humana, entre a ordem e o progresso. Ele acreditava que isso superaria tanto a teologia quanto a revolução, ou seja, propunha que o progresso deveria ser o alvo a se atingir, mas sempre sob o manto da ordem, para que não ocorressem distúrbios e abalos no processo de mudança. A ciência deveria ser um instrumento para a análise da sociedade no sentido de torná-la melhor através do lema: Conhecer para prever, prever para prover; isso queria dizer que o conhecimento deveria existir para fazer previsões e também para dar a solução dos possíveis problemas que viessem a existir. O método racional para poder dominar a natureza podia e devia ser utilizado pela Sociologia. A influência de Comte no desenvolvimento da Sociologia foi marcante, sobretudo na escola francesa, através de Émile Durkheim e de todos os seus contemporâneos e seguidores. Seu pensamento esteve presente em muitas das tentativas de se criar determinadas tipologias para explicar a sociedade. Suas principais obras: 
• Sistema de política positiva (1824); • Curso de filosofia positiva (1830-1842);
• Discurso sobre o espírito positivo (1844); • Catecismo positivista (1852).
Karl Heinrich Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), a tradição socialista Karl Marx nasceu em Trèves, na antiga Prússia, em 1818, filho de uma família judaica e de uma linhagem de rabinos. Seu pai, que era advogado, havia rompido esta tradição e, por questões políticas, abraçou a religião protestante. Após seus estudos em Trèves, Marx foi para Bonn e depois para Berlim, onde estudou Direito. Pouco a pouco foi se inclinando para a Filosofia, defendendo em 1841 sua tese de doutorado: A diferença da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro. Nesse período universitário teve uma vida em que se misturaram a boemia e a poesia, mas também o debate político e o intelectual tendo por base o pensamento de Ludwig Feuerbach (1804-1872 e, principalmente, o de Friedrich Hegel, que conheceu neste período e do qual não mais irá se separar, mesmo quando faz a crítica do filósofo alemão. A partir de então sua vida foi cheia de tribulações. Tornou-se jornalista e escreveu para um jornal (do qual depois se tornou o editor-chefe), A Gazeta Renana, crítico do poder prussiano. O jornal logo foi fechado e ele se viu desempregado. Em 1842 conheceu, em Colônia, na Alemanha, um jovem, Friedrich Engels, filho de um industrial alemão, que se tornará seu parceiro intelectual e amigo nas horas de infortúnio durante toda sua vida. Foi através de seu livro: A situação da classe trabalhadora na Inglaterra que Marx passou a conhecer a situação econômica e social da Inglaterra. Este livro nasceu da impressão causada pela miséria em que viviam os trabalhadores das fábricas na Inglaterra, inclusive as da sua família. Marx, ao sair da Alemanha, passou a viajar pela Europa. Na França ficou de 1843 a 1845, quando escreveu os famosos Manuscritos econômicos e filosóficos (só publicados em 1932). Entre 1845 e 1847 exilou-se em Bruxelas-Bélgica, onde escreveu em conjunto com Engels o livro A ideologia alemã e, mais tarde, o livro Miséria da Filosofia, criticando o filósofo P.J. Proudhon. No bojo dos movimentos revolucionários de 1847 e 1848, em toda a Europa, Marx foi expulso da Bélgica, voltou à França, mas não podendo por lá ficar retornou à Alemanha, sempre pensando nas possibilidades de uma mudança estrutural em sua terra natal. Entretanto, isso não aconteceu, e ele emigrou para a Inglaterra, fixando-se em Londres, onde irá ficar até o final de sua vida. Na Inglaterra, como exilado, desenvolveu suas pesquisas e seu maior trabalho: O Capital – Crítica da Economia Política. Há quem diga que sem Londres não haveria esta obra que revolucionou a maneira de pensar o sistema capitalista. No Museu Britânico, ficava das 9 às 19 horas, e consumia a maior parte de seus dias pesquisando para escrever uma obra da qual só o primeiro volume conseguiu publicar em vida. Os outros dois volumes foram publicados, por Engels, após a sua morte, tendo por base todo o material (apontamentos, rascunhos e partes concluídas mas sem revisão). Para entender a importância da obra de Marx e Engels é necessário conhecer um pouco do que estava acontecendo em meados do século XIX, principalmente as transformações que estavam ocorrendo nas esferas da produção industrial. Além de um crescimento expressivo da produção de mercadorias, houve um crescimento expressivo do número de trabalhadores industriais urbanos, com as consequências inevitáveis que ainda hoje se fazem conhecer em muitas partes do mundo: a precariedade das condições de vida dos trabalhadores nas cidades de então. Estas condições eram péssimas em todos os sentidos: o trabalho no interior das fábricas, que empregavam homens, mulheres e crianças superexplorados, alimentação deficiente, insalubridade nos ambientes internos e externos e péssimas condições de vida nas casas em que moravam. Esta situação gerou a organização desses trabalhadores em associações e sindicatos e em movimentos que visavam à transformação das condições de vida que os mesmos enfrentavam. Essas mudanças exigiram o desenvolvimento de um pensamento que procurasse entender as condições sociais, políticas e econômicas que as geravam e indicassem possibilidades de intervenção nessa realidade. Muitos pensadores discutiram, desde o início do século XIX, a sociedade que emergia, demonstrando, do ponto de vista de uma perspectiva socialista, as questões sociais de então.
Na Inglaterra podemos citar, entre outros, William Godwin (1756-1836), Thomas Spence (1750-1814), Thomas Paine (1737-1809), Robert Owen (1771-1858), Thomas Hodgkin (1787-1869), na França, Etienne Cabet (1788-1856), Flora Tristan (1803-1844), Charles Fourier (1772-1837) e Pierre Joseph Proudhon (1809-1865). Levando em conta esses pensadores, debatendo com alguns desses seus contemporâneos e mesmo criticando-os, Marx incorporou a tradição da economia clássica inglesa presente principalmente em Adam Smith e David Ricardo. Resumindo, pode-se dizer que Marx e Engels desenvolveram seu trabalho a partir da análise crítica da economia política inglesa, do socialismo utópico francês e da filosofia alemã.
Assim, a tradição socialista, nascida da luta dos trabalhadores, muitos anos antes e em situações diferentes, tem como expressão intelectual o pensamento de Karl Marx e F. Engels. Eles, entre outros, procuraram estudar criticamente a sociedade capitalista a partir de seus princípios constitutivos e de seu desenvolvimento, tendo como objetivo possibilitar à classe trabalhadora uma análise política da sociedade de seu tempo. Quanto à proposição de uma “ciência da sociedade”, não há em Marx e Engels nenhuma preocupação em definir uma ciência específica para o estudo da sociedade, como para Auguste Comte, e nem em situar seus trabalhos em algum campo científico particular. Em alguns de seus escritos, Marx afirmou que a História seria a ciência mais ampla, que mais se aproximava de suas preocupações, não no sentido da História como uma ciência separada das outras ciências humanas, mas no sentido que entende a História como a única ciência social capaz de abarcar o conhecimento da sociedade em suas múltiplas dimensões. Esta, para eles, deveria ser analisada na sua totalidade, não havendo uma separação rígida entre os aspectos sociais, econômicos, políticos, ideológicos, religiosos, culturais, etc. Neste sentido, e para esclarecer porque não assumimos Marx como sendo um sociólogo, utilizamos a argumentação de Henri Lefebvre, em seu livro Sociologia de Marx. Marx, um sociólogo? Veremos em Marx um sociólogo? Também não. Essa interpretação foi bastante difundida na Alemanha e na Áustria. Começava por eliminar a filosofia atribuída a Marx, sem todavia distinguir o sentido da filosofia e formular a tese de sua superação (de sua realização) em toda sua amplitude. Mutilava arbitrariamente, portanto, o pensamento de Marx, suscitando discussões intermináveis destinadas a cair no bizantinismo e na escolática. Nessa perspectiva, o marxismo se alinha com o positivismo de Comte. Mutilado, o pensamento marxista embota-se e perde o gume. O método dialético desaparece em proveito do “fato” e a contestação crítica debilita-se em proveito da constatação. No Capital, o uso de uma noção chave – a de totalidade – não relegava na obscuridade a contradição dialética. Ao contrário. A contradição assumia uma acuidade que perdera na sistematização hegeliana; entre os homens e as obras, entre a alteridade e a alienação, entre grupos e classes, entre bases e estruturas e superestruturas multiplicam-se e acentuam-se as contradições. No sociologismo, ao contrário, a consideração da sociedade como um todo deprecia a contradição. A noção de classes e de luta de classes se esfuma. Identifica-se a sociedade com a nação e o Estado nacional. O sociologismo ligado ao pensamento marxista penetrava assim facilmente nos quadros ideológicos e políticos tão criticados por Marx em suas glosas ao programa de Gotha (1875). A sociologia positivista com pretensões a marxista sempre tendeu para o reformismo. Daí sua má reputação entre uns, sua atração para outros. Hoje em dia essa sociologia na linha do positivismo torna-se abertamente conservadora, enquanto originalmente essa ciência – ligada à ala esquerda do romantismo – não separava conhecimento e crítica, com Saint-Simon e Fourier. Por múltiplas razões não faremos de Marx um sociólogo. [...] Se aludimos a uma tal possibilidade, é que temos visto coisas piores em meio às controvérsias. Marx não é um sociólogo, mas existe uma sociologia no marxismo. Como compreender essas proposições que parecem pouco compatíveis? Para tanto, devem-se levar em conta dois grupos de noções e de argumentos:
a) O pensamento marxista mantém a unidade do real e do conhecimento, da natureza e do homem, das ciências da matéria e das ciências sociais. Explora uma totalidade no vir a ser e no presente, totalidade essa que compreende níveis e aspectos ora complementares, ora distintos, ora contraditórios. Não é em si mesmo nem história, nem sociologia, nem psicologia etc., mas compreende esses pontos de vista, esses aspectos, esses níveis. Daí sua originalidade, sua novidade e seu interesse duradouro. A partir de fins do século XIX surgiu uma tendência a pensar a obra de Marx, e particularmente o Capital, em função das ciências parciais que desde então se especializaram e às quais Marx recusara a compartimentação. Reduz-se o conjunto teórico do Capital a um tratado de História ou de economia política ou de sociologia ou mesmo de filosofia. O pensamento marxista não pode entrar nestas categorias estreitas: filosofia, economia política, história, sociologia. Tampouco depende da concepção “interdisciplinar” que tenta corrigir, arriscando confundir, os inconvenientes do parcelamento do trabalho nas ciências sociais. A investigação marxista visa a uma totalidade diferenciada, concentrando a pesquisa e os conceitos teóricos em torno de um tema: a relação dialética entre o homem social ativo e suas obras (múltiplas, diversas, contraditórias).
b) A especialização em parcelas das ciências da realidade humana, desde a época em que Marx expunha o capitalismo de concorrência, tem sua razão de ser. A totalidade não pode mais ser atingida. como no tempo de Marx, de maneira unitária, ao mesmo tempo de dentro e de fora (em relação ao possível), na constatação e na contestação. E contudo não podemos aceitar a separação das ciências parciais. Ela esquece a totalidade: a sociedade como um todo e o homem total. Mas a realidade humana se torna complexa. Essa crescente complexidade faz parte da história em sentido amplo. [...]. Com um vocabulário em vias de elaboração, a unidade do saber e o caráter total do real permanecem pressupostos indispensáveis nas ciências sociais. É possível, pois, examinar as obras de Marx e nela reconhecermos uma sociologia da família, da cidade e do campo, dos grupos parciais, das classes, das sociedades em seu conjunto, do conhecimento, do Estado, etc. E isto a um certo nível da análise e da exposição, logo sem restringir os direitos das demais ciências: economia política, história, demografia, psicologia. Por outro lado, é possível continuar a obra de Marx, buscando, a partir do Capital e com o seu método, a gênese da sociedade “moderna”, de suas fragmentações e contradições. LEFEBVRE, Henri. Sociologia de Marx. Rio de Janeiro: Forense, 1968.p. 14-16. Para entender o fundamental do pensamento de Marx e de Engels é necessário fazer a conexão entre os interesses da classe trabalhadora, suas aspirações e as ideias revolucionárias que estavam presentes na Europa no século XIX. Para os dois pensadores, o conhecimento científico da realidade só teria sentido se fosse para transformá-la, pois a “verdade histórica não constitui uma coisa abstrata definida teoricamente: sua verificação está na prática. Marx escreveu muito, e em várias ocasiões teve como companheiro F. Engels. Apesar de algumas diferenças em seus escritos, os elementos essenciais do pensamento desenvolvido por eles podem ser situados, de modo resumido, nas seguintes questões: Historicidade das ações humanas – crítica ao idealismo alemão; Divisão social do trabalho e o surgimento das classes sociais. A luta de classes; O fetichismo da mercadoria e o processo de alienação; Crítica à economia política e ao capitalismo; Transformação social e revolução; Utopia – sociedade comunista. A obra desses dois autores é muito vasta, mas podem ser destacados alguns livros e escritos: 
• F. Engels. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra (1845);
• K. Marx. Manuscritos econômico-filosóficos (1844); • Karl Marx e F. Engels. A sagrada família (1844);
• K. Marx e F. Engels. A ideologia alemã (1845);
• K. Marx. A miséria da filosofia (1847);
• K. Marx e F. Engels. O manifesto comunista (1848);
• K. Marx. O 18 Brumário de Napoleão Bonaparte (1852);
• K. Marx. Contribuição à crítica da economia política (1857);
• K. Marx. O capital (1867).
Vale considerar que a obra desses pensadores não ficou vinculada estritamente aos movimentos sociais dos trabalhadores. Ela foi sendo introduzida nas universidades em diferentes áreas do conhecimento. A Filosofia, a Sociologia, a Ciência Política, a Economia, a História, a Geografia, entre outras, contam com trabalhos acadêmicos de autores influenciados pelos dois autores alemães. Na Sociologia, afirma Irving M. Zeitlin em seu livro Ideologia y teoria sociológica, tanto Max Weber quanto Emile Durkheim fizeram em suas obras um debate com o fantasma de Karl Marx. Pelas análises da sociedade capitalista de seu tempo, e pela repercussão que a obra dos dois alemães teve em todo o mundo, principalmente no século XX, seja nos movimentos sociais como nas universidades, Marx e Engels são considerados autores clássicos da Sociologia. Mas isso tornou o pensamento deles um pouco restrito, pois perdeu aquela ligação entre teoria e prática (práxis), ou seja, entre o pensamento crítico e a prática revolucionária. Em alguns casos a relação entre teoria e prática revolucionárias esteve muito presente. É o caso da Rússia, com Vladimir Ilyitch Ulianov, mais conhecido como Lênin (1870-1924) e Leon D. Bronstein, conhecido como Trotski (1879-1940); da Alemanha, com Rosa Luxemburgo (1871-1919); e da Itália, com Antonio Gramsci (1891-1937), que participaram como intelectuais e atores com significativa influência no movimento operário no século XX. A partir do conjunto da obra de Marx e Engels muitos autores desenvolveram seus trabalhos em vários campos do conhecimento. Em termos acadêmicos, no interior das universidades, podem ser destacados trabalhos como os de Georg Lukacs (1885-1971); Theodor Adorno (1903-1969); Walter Benjamin (1892- 1940) Henri Lefebvre (1901-1991) Lucien Goldman (1913-1969); Luis Althusser (1918-1990); Nicos Poulantzas (1936-1979); Edward P. Thompson (1924-1993) e Eric Hobsbawn (1917-). Até hoje o pensamento de Marx e Engels continua presente com múltiplas tendências e variações, sempre gerando grandes controvérsias, mesmo no interior do chamado marxismo, e uma reação e até incorporação de partes deste pensamento em outras tradições sociológicas. A Sociologia, como ciência acadêmica, num momento posterior, floresceu da reflexão de alguns pensadores que procuraram analisar e discutir a sociedade de seu tempo, levando em conta influências ou se contrapondo aos pensadores de antes. A partir dos últimos anos do século XIX, como saber universitário, a Sociologia se desenvolveu especialmente em três países: França, Alemanha e Estados Unidos da América. Em outros países também aparece o saber sociológico, mas aqueles países estão sendo privilegiados porque é deles que a Sociologia no Brasil, a partir de 1930, vai receber sua maior influência.
Curiosidade: a sociologia na América latina Em 1877 foi criado, na cidade de Caracas, Venezuela, um Instituto de Ciências Sociais e, anos mais tarde, em 1882, a Universidade de Bogotá, na Colômbia, abriu o primeiro curso de Sociologia no mundo, antecipando-se assim em dez anos ao inaugurado em Chicago em 1892. Daí em diante, esse processo se expandiu: 1898, em Buenos Aires; 1900, em Assunção; 1906, em Caracas, La Plata e Quito; 1907, em Córdoba, Guadalajara e Cidade do México. Até os anos de 1920, o ensino de Sociologia já estava estabelecido em quase todos os países da América Latina, em várias universidades. No Brasil, como veremos na 6ª Aula, o primeiro curso superior de Ciências Sociais somente surgiu na década de 1930.

Curso de especialização em ensino de sociologia :
 nível médio : módulo 2. -- Cuiabá, MT : Central de Texto, 2013. Vários autores.
 Bibliografia. ISBN 978-85-8060-024-7 1. Sociologia - Estudo e ensino 2. Sociologia


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