Olá, pessoal do 2ºE!
Espero que estejam bem :)
Na atividade desta semana, você irá conhecer o romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. Por favor, envie suas respostas para o seguinte e-mail: mmaraujo@prof.educacao.sp.gov.br até o dia 29/06/2020.
Assunto: Romantismo no
Brasil – prosa II: romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis.
I. A atividade a seguir faz parte do Caderno do
aluno da 2ª série do ensino médio. Trata-se de um trecho do romance Úrsula, de
Maria Firmina dos Reis. Antes de ler o texto, assista aos vídeos para ajudar a
entender melhor a obra e leia a introdução A
voz silenciada. Depois, responda às questões.
Link
para baixar o livro: https://bd.camara.leg.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/35999/ursula_obras_reis.pdf
A
VOZ SILENCIADA
Durante o século XIX, período do
Romantismo na Literatura Brasileira, a presença do negro nas obras literárias
foi muito reduzida. Nas publicações de época, eram muitas vezes silenciados ou
representados como submissos e subjugados, sem voz ou resistência. Em 1859, uma
escritora maranhense, Maria Firmina dos Reis, publicou Úrsula, considerado o
primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil, e o primeiro por uma mulher
negra na América Latina. Neles, a protagonista é uma mocinha branca clássica de
romance, mas a autora dá voz às personagens escravizadas, representando-as em
toda a sua dimensão humana, com subjetividade e desejos individuais, quebrando
o padrão da escrita dos folhetins da época. Maria Firmina dos Reis permaneceu
esquecida dos estudos acadêmicos até a década de 70 do século passado, quando
sua obra começou a ser resgatada e a devida importância ao que produziu veio à
tona. Para conhecer a história da autora, leia um fragmento de Úrsula. No
trecho, pela primeira vez na literatura brasileira, o escravizado tem sua voz respeitada
e denuncia as condições bárbaras dadas aos povos africanos. Essa é uma das
muitas razões da importância histórica dessa narrativa.
Lembrete: Por se tratar
de um romance publicado no século XIX, algumas palavras poderão ser
desconhecidas para você. Grife-as durante a leitura procurando inferir seu
significado pelo contexto, depois consulte um dicionário para verificar as
hipóteses que você levantou.
CAPÍTULO
9 – A PRETA SUSANA
[...]
Tudo me obrigaram os bárbaros a deixar! Oh, tudo, tudo até a própria liberdade!
Estava extenuada de aflição, a dor era-lhe viva, e assoberbava-lhe o coração. —
Ah, pelo céu! — exclamou o jovem negro enternecido — sim, pelo céu, para que
essas recordações? — Não matam, meu filho. Se matassem, há muito que morrera,
pois vivem comigo todas as horas. Vou contar-te o meu cativeiro. Tinha chegado
o tempo da colheita, e o milho e o inhame e o amendoim eram em abundância nas
nossas roças. Era um destes dias em que a natureza parece entregar-se toda a
brandos folgares, era uma manhã risonha, e bela, como o rosto de um infante,
entretanto eu tinha um peso enorme no coração. Sim, eu estava triste, e não
sabia a que atribuir minha tristeza. Era a primeira vez que me afligia tão
incompreensível pesar. Minha filha sorria-se para mim, era ela gentilzinha, e
em sua inocência semelhava um anjo. Desgraçada de mim! Deixei-a nos braços de
minha mãe, e fui-me à roça colher milho. Ah, nunca mais devia eu vê-la. Ainda
não tinha vencido cem braças do caminho, quando um assobio, que repercutiu nas
matas, me veio orientar acerca do perigo eminente que aí me aguardava. E logo
dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira — era
uma escrava! Foi embalde que supliquei em nome de minha filha, que me
restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam-se das minhas lágrimas, e
olhavam-me sem compaixão. Julguei enlouquecer, julguei morrer, mas não me foi
possível. . . A sorte me reservava ainda longos combates. Quando me arrancaram
daqueles lugares, onde tudo me ficava — pátria, esposo, mãe e filha, e
liberdade! Meu Deus, o que se passou no fundo da minha alma, só vós o pudestes
avaliar! Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de
cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis
tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos
nessa sepultura, até que abordamos às praias brasileiras. Para caber a
mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé, e, para que não houvesse
receio de revolta, acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que
se levam para recreio dos potentados da Europa: davam-nos a água imunda, podre
e dada com mesquinhez, a comida má e ainda mais porca; vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de
ar, de alimento e de água. É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a
seus semelhantes assim, e que não lhes doa a consciência de levá-los à
sepultura asfixiados e famintos! Muitos não deixavam chegar esse último extremo
— davam-se à morte. Nos dois últimos dias não houve mais alimento. Os mais
insofridos entraram a vozear. Grande Deus! Da escotilha lançaram sobre nós água
e breu fervendo, que escaldou-nos e veio dar a morte aos cabeças do motim. A
dor da perda da pátria, dos entes caros, da liberdade fora sufocada nessa
viagem pelo horror constante de tamanhas atrocidades. Não sei ainda como
resisti — é que Deus quis poupar-me para provar a paciência de sua serva com
novos tormentos que aqui me aguardavam. O comendador P. foi o senhor que me
escolheu. Coração de tigre é o seu! Gelei de horror ao aspecto de meus irmãos.
. . os tratos porque passaram, doeram-me até o fundo do coração. O comendador
P. derramava sem se horrorizar o sangue dos desgraçados negros por uma leve
negligência, por uma obrigação mais tibiamente cumprida, por falta de
inteligência! E eu sofri com resignação todos os tratos que se dava a meus
irmãos, e tão rigorosos como os que eles sentiam. E eu também os sofri, como
eles, e muitas vezes com a mais cruel injustiça. Pouco tempo depois casou-se a
senhora Luíza B., e ainda a mesma sorte: seu marido era um homem mau, e eu
suportei em silêncio o peso do seu rigor. E ela chorava, porque doía-lhe na
alma a dureza de seu esposo para com os míseros escravos, mas ele via-os
expirar debaixo dos açoites os mais cruéis, das torturas do anjinho, do cepo e
outros instrumentos de sua malvadeza, ou então nas prisões onde os sepultavam
vivos, onde carregados como ferros, como malévolos assassinos acabavam a existência,
amaldiçoando a escravidão, e quantas vezes os mesmos céus.
O senhor Paulo B. morreu, e sua esposa,
e sua filha procuraram em sua extrema bondade fazer-nos esquecer nossas
passadas desditas! Túlio, meu filho, eu as amo de todo o coração, e lhes agradeço:
mas a dor que tenho no coração, só a morte poderá apagar! Meu marido, minha
filha, minha terra. Minha liberdade. E depois ela calou-se, e as lágrimas, que
lhe banhavam o rosto rugoso, gotejaram na terra. Túlio ajoelhou-se respeitoso
ante tão profundo sentir: tomou as mãos secas e enrugadas da africana, e nelas
depositou um beijo. A velha sentiu-o, e duas lágrimas de sincero enternecimento
desceram-lhe pela face: ergueu então seus olhos vermelhos de pranto, e arrancou
a mão com brandura. E, elevando-a sobre a cabeça do jovem negro, disse-lhe
tocada de gratidão: — Vai, meu filho. Que o Senhor guie os teus passos, e te
abençoe, como eu te abençoo. [...]
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula.
Disponível em:<https://cadernosdomundointeiro.com.br/pdf/Ursula-2a-edicaoCadernos-do-Mundo-Inteiro.pdf>.
Acesso em: 05 nov. 2019.
a)
Consulte
no dicionário as palavras desconhecidas que você destacou, para checar as
hipóteses levantadas. Transcreva apenas o significado que se relaciona ao
contexto.
b)
Uma
das características do Romantismo é o apelo aos sentimentos e às emoções; esse
recurso é utilizado pela autora? Comente.
c)
A
liberdade é um direito básico do ser humano. Em quais trechos do texto a autora
enfatiza essa questão?
d)
Analise
a seguinte afirmação: A personagem Suzana é consciente em relação à sua cultura
e seu passado africano. Faça um comentário destacando passagens do texto que
permitem confirmá-la.
II.
Leia o trecho a seguir que inicia o romance Úrsula para responder às próximas
questões:
MESQUINHO
E HUMILDE LIVRO é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o
indiferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou a
lume. Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de
autor. Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher
brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens
ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem [...]
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula.
Disponível em:<https://cadernosdomundointeiro.com.br/pdf/Ursula-2a-edicaoCadernos-do-Mundo-Inteiro.pdf>.
Acesso em: 05 nov. 2019.
a)
Qual
era condição das mulheres no Brasil do século XIX, especificamente das mulheres
negras?
b)
O
que mudou em relação ao tratamento dado às mulheres nos dias de hoje,
especificamente às pobres, negras e periféricas?
Obrigada!
Profª Maria Margarida
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